segunda-feira, 1 de junho de 2009

LXXIII - Tonel do ódio



Segue-se aí um soneto do livro As flores do mal
do poeta simbolista Charles Baudelaire (1821-1867),
grande referência do zine Vertigem:


LXXIII - Tonel do ódio


O Ódio é o tonel das pálidas Denaides frias;
Por mais que da Vingança o braço rubro e forte
Derrame-lhe às entranhas ermas e sombrias.
Baldes cheios de sangue e lágrimas da morte,


O Diabo lhe abre furos nunca imaginados,
Que verteriam séculos de esforço e suor,
Mesmo que à vida ela trouxesse os condenados
Para o corpo infligir-lhes castigo maior.


O Ódio é um ébrio perdido ao fundo da taverna,
sente sua sede emergir do licor
E ali multiplicar-se qual hidra de Lerna.


- Mas quem bebe feliz verá seu vencedor,
E ao Ódio resta apenas a amarga certeza
De saber que jamais dormirá sob a mesa.