domingo, 16 de dezembro de 2012

ERICA LEÃO

(Por Diego EL Khouri)


técnica: tinta a óleo sobre tela

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

RAULZITO

(Por Diego EL Khouri)











quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

LUZ PENETRANTE



          I    


(Por Diego EL Khouri)

A visão pálida a vislumbrar todas as estrelas
brilhantes que rasgam o céu
mulher  de pele desguarnecida 
arrebol e nuvens que transam
penetrando cores e desenhos

 sentinelas a perscrutar  o frêmito
do tempo  na alvorada reluzente
e pergunto a quem pode
corromper na resposta
todos os ensinamentos tolos  da vida

e pergunto e não tenho saída

ébrio que bebe o mijo
dos antigos surrealistas
para mascarar  a viagem
em dia e noite
o sol a brilhar a praia
espuma branca
e o cheiro da cannabis
que envolve e chama


e pergunto e não vejo saída

apenas a luz
de seu olhar penetrante
a forma como anda
e transparece uma malícia radiante
pura poesia boba
copo de cerveja pela metade
lábios  unidos em volúpia
porre em noite enluarada
a solidão do quarto
e uma mijação sem parar que não acaba


por que olho e não reparo
as cicatrizes que desenham sua face?
caminho da praia sua casa
em todo bar e sarau te encontro
mas prefiro zonas vulgares

rainha alada, saiba que o poeta
nasceu para xingar-berrar-gritar
romper limites e barreiras
é o que eu  tenho falado

e não veja em mim uma saída
nem me roube  todo pecado


          II

São olhos, olhos de intensa luz...
Brilho inefável que não cessa...
Um bocejo aqui e logo ali a janela
a suspirar lembranças de amor...
Uma gota de orvalho nas pétalas.

Tudo tem começo, meio, fim.
Comigo foi tudo muito rápido enfim.
Pássaro sem asas caído por aí
jogando-se em becos e bares
bebendo até a última gota do barril.

Comigo foi tudo muito rápido sim.
Muito rápido enfim.
Tudo muito rápido sim.
Muito rápido enfim.

sábado, 24 de novembro de 2012

AYMÊ SOUSA

(Por Diego El Khouri)


terça-feira, 20 de novembro de 2012

O POETA

(Por Diego EL Khouri)


domingo, 4 de novembro de 2012

PEQUENO ROGER

(Por Diego El Khouri)




quarta-feira, 31 de outubro de 2012

POIS É

(Por Diego EL Khouri)



na terra dos poemas

dionísio bate a porta
no toque sutil da melodia
a inspiração se encontra
e explode.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

BODISATVA SAFADO





(Por Diego EL Khouri)
E que ninguém ouse frear essa língua! Que as sete pragas venham por sobre a cabeça de quem o tentar! 
Alexandre Mendes



Nasci torto
desgarrado
filho errado
poeta embriagado

bodisatva safado
demônio enjaulado
o hermético soldado
perante grades malfadadas

um siso ferido carcomido
nas geleiras polares

cristo perdido e sozinho
sem um único amigo ou vizinho

querem ver-me aprisionado
aqueles que me tem carinho

mas quem me levou
a terra dos ordinários
só pode querer ver-me
aprisionado

anjo  errado
desgarrado
imaculado
deus torto
louco
embriagado.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

NO INÍCIO


No início, Deus criou o céu e a terra.
A terra estava sem forma e vazia; as trevas
cobriam o abismo e um vento impetuoso
soprava sobre as águas.
Deus disse: "Que exista luz!" e a luz
começou a existir.
               Gênesis, capítulo 1 - vers. : 1 a 3.

No início a aurora fervescente.
A terra sem forma e vazia.
Sem o possesso, a dor, a luz,
o silêncio se angustiam.

Faltava ainda a claridade.
No princípio a vida não existia.
- Permanece Morta a liberdade.
Em transe percorre o céu, sombra minha.

Deus entregou ao firmamento
sua cara desnuda banhada de sangue
e a luz ainda, ainda incógnita...

Os trilhos do trem, coração inchado no chão.
A bala se transformando em poesia.
E a luz ainda, a lua ainda, ainda...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

BRINCAR DE DESTINO

(Por Diego El Khouri)

Vejo que vivo
as sombras da ruína.
Amargo estupor.
Criança que no sorriso
       se acalenta
envolta em amor.

Se busquei ar
nas plagas azuis
do outro lado da rua
        ou
nos confins do mundo

se tentei amar
mesmo quando o sangue
descia pelas ventas

se amolei a faca
e brinquei nos meus pulsos
um destino

                 a poesia NÃO

não pereceu totalmente
  como minha alma, minhas idéias
   meu corpo
essa tríade subversiva
da jornada incomum de todo poeta-fogo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

MANIFESTO EM FAVOR À POESIA MARGINAL


*desabafo 2009


(texto: Diego EL Khouri - leituras: Edu Planchêz e Queiroz Filho)




"O que é criado pelo espírito é mais vivo do que a matéria.
O amor é o gosto pela prostituição. Nem há prazer nobre que não possa ligar-se à prostituição.
Num espetáculo, num baile, cada um goza de todos.
Que é a arte? Prostituição.
O prazer de estar nas multidões é uma expressão misteriosa do gozo da múltiplicação do número.
Tudo é número. O número está em tudo. O número está no indivíduo. A embriaguez é um número."

Começo esse ensaio sobre poesia marginal com esse pensamento encontrado no livro Meu coração desnudado do grande poeta maldito Charles Baudelaire, autor de livros como As flores do mal, Escritos sobre arte eParaísos Artificiais - o haxixe, o ópio e o vinho. Textos concebidos sobre a condição de poeta perdido e açoitado em um mundo capitalista e pragmático.
Fixado nessa cadeira alimentada por inúmeros cupins e com um saboroso vinho tinto na mão direita tento esboçar idéias que para muitos (sobretudo uma classe acadêmica e necrófila) são apenas desvios de uma mente atormentada e desesperada; resultado de uma infância humilhante e uma juventude à beira da morte. A poesia é existência. É entregar-se a vida. É dor e prazer, realidade e loucura. Essa correlação de vida e poesia não pode dissociar. Ela inclusive nasceu nessa idéia; primeiro com os trovadores, depois com os burgueses da corte, passando pelos profetas, em seguida os boêmios, e por fim os jovens universitários moribundos e sem pele. "Escreves com sangue e verás que o sangue é espírito." Expulsa do seu corpo versos como vomita sêmen numa noite tumultuosa. "A poesia é a metralhadora na mão de um palhaço". É preciso penar muito para chegar a sua essência. Aprendemos isso com os poetas fesceninos. O erotismo, uma válvula de escape fantástica. Poeta de bermuda e chinelo havaiana.

Seguindo nessa linhagem de literatura intensa e até mesmo orgiaca num ensaio do cineasta e também poeta fescenino Sylvio Back intitulado A poesia das Inevitabilidades ele diz que o poema erótico nasceu nas mãos criativas de Goethe, Baudelaire, Rimbaud, Whitman, Apollinaire, Valéry, Verlaine, Kafávis, Pierre Loÿs, Boris Vian, sendo sancionada por toda a sociedade manipuladora, pela mídia, editores, livrarias e os tão aclamados "críticos virtuosos". Sempre os críticos, os críticos... Em 1807 em uma época de calorosas revoluções, o homem começando a sentir-se oprimido e desafiado pela máquina o inglês Lord Byron lança um livro cujo título "A Hora do Ócio" chocou os chamados seres sem pele, arrasando o jovem rapaz devido as críticas duras em relação ao seu primeiro trabalho. Em seguida revoltado e com tom de ironia publica "Bardos Ingleses e Críticos Escoceses"! Precisamos alimentar as vísceras desses tolos sangue-sugas - noites de porre, madrugadas de absinto. O marginal é aquele ser bárbaro, posto em escanteio sem dó nem piedade. Muitas vezes por vontade própria. "A marginalidade é formada por aqueles que estão 'out' - aqueles que não tem acesso ao poder estabelecido involuntariamente por miséria, ou voluntariamente por escolha estética religiosa", já dizia o profeta do caos Timothy Leary.

Higiene, conduta e moral. A poesia está nos tempos atuais recheada de lirismo hipócrita e versos gentis. Uma volta ao parnasianismo; escrever de forma amena dentro da forma clássica inspirada nos gregos, ou seja, não importa o "eu- emocional" apenas o "eu-pensante". Isso está muito relacionado também com a poesia-objeto de João Cabral de Mello Neto. Denovo a forma valendo mais que a intuição e a inspiração. Sou mais Roberto Piva que demora sempre em média dez anos pra publicar uma obra, pois ele acredita naquela idéia de inspiração, de santo baixando mesmo. A idéia do choque e do susto. Ver por exemplo uma mancha em um banco de praça o dia todo e viajar em suas formas, se perder em seus desenhos, se ocultar em seus contornos. Daí nasce a linguagem poética. "O poema nasce do espanto e o espanto do incompreensivel." Por isso insisto, marginal é quem escreve à margem apenas por não vender sua arte a uma classe intelectual e acadêmica que vivem coçando seus cus atrás de mesas com mil canetas no bolso e nenhuma coragem nas ações. "O poeta tem que cair na vida, deixar de ser brocha pra ser bruxo". "O poeta é um vidente". Com Rimbaud aprendemos isso, com Wiliam Blake as famosas "portas da percepção" e com Ginsberg o êstase búdico. Desvencilhar o que é frágil e criar uma arte para poucos mas com muito conteúdo. Também acredito em você, Piva. Infelizmente seu dizer tem verdade, tem conteúdo. "A poesia sempre será uma arte minoritária." Cabe a nós, seres excluídos e ausentes de toda "moral puritana" cultivar a pele, o pelo e a exaltasão dos sentidos. Os estados alterados da consciência que um tal de Salvador Dalí (baseado nos estudos de Freud) nos ensinou com seu surrealismo real e vertiginoso, delirante, eterno.

"A poesia é a orgia mais fascinante ao alcance do homem". André Breton.

Comecei esse texto depois de uma conversa com um conhecido meu. Falavámos de literatura, de Kafka a Machado de Assis, passando pelos filósofos e música popular. No meio de uma conversa comecei a falar de gênios como Rimbaud, Mallarmé, Leminski, Allan Poe... portanto sobre poesia.
O que me chamou a atenção foi algo que ele disse que ficou na minha cabeça a noite toda. O pragmático rapaz disse com seu falar racional: "a poesia, mesmo a marginal sempre terá um caráter fresco." Ah que triste afirmação ele disse!! talvez porque nunca leu Allen Ginsberg e nada de poesia beat, simbolista, fescenina, concreta... Aqueles deuses da linguagem que chocaram toda uma sociedade com seus versos e atitudes. Veja por exemplo em 1956. Recital de poesia com os escritores beatniks em um salão recheado de bebida e excentricidades. Quando Corso (aquele poeta que mais tarde numa noite de escessos incentivaria o roqueiro Jim Morrison a publicar seu livro) recitava seus textos em meio a reprovações de um bêbado lunático. Ginsberg educadamente pediu que ele fizesse silêncio. O estorvo não cessou seu dizer sem lógica. Allen novamente pediu por favor e nada. Revoltado ele perguntou ao bêbado o que ele queria e este repondeu que queria "nudez". O poeta então se desnudou por completo e o bebum sob vaias saiu sem graça do ambiente e Ginsberg ovaciondo pelo povo. Ou então numa noite enquanto se masturbava ele lia um verso do poeta-profeta-vidente William Blake que dizia isto:

Ver um mundo num grão de areia
E o céu numa flor selvagem
Segurar o infinito na palma de sua mão
E a eternidade numa hora.

Nesse momento o poeta beat ouviu a voz do próprio Blake dizendo esses versos e ele percebeu que deveria continuar nessa linhagem de poeta-profeta. Rimbaud abrigado pelo também poeta Verlaine viajou durante todo o dia numa mancha na parede sendo expulso da casa e passando a perambular por semanas com os mendigos da praça Maubert. Certa vez chegou a se enclausurar numa noite em um armário para aprender a falar árabe e alemão. É desse tipo de vivencia que necessitamos. "Não acredito em poeta experimental que não tem vida experimental." É preciso roubar o infinito, entrar e sair de todo sistema. Vomitar na mesmice seu mais secreto sentimento. É preciso viver, viver, mais do que isso viver, viver...

"O poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e refletido desregramentos de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele procura ele mesmo, ele esgota neles todos os venenos para só guardas as quintessências. Indizível tortura na qual ele precisa de toda a fé, de toda a força sobre-humana, onde ele se torna entre todos o grande doente, o grande criminoso, o grande maldito - o supremo Sábio! - Pois ele chega ao desconhecido!" Todo poeta deveria seguir na íntegra essa máxima de Rimbaud. Ser vidente. "O poeta é mesmo ladrão de fogo".

Marginal é quem escreve à margem,
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à paisagem.

Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.
Paulo Leminski

Agora escrevo a tão prometida lista dos dez livros de poesia contundente para iniciados nessa arte. Isso é pra você que falou que poesia sempre terá um caráter meramente fresco e sem importância
.
Segue-se aí:

01- O Matrimônio do Céu e do Inferno -
Autor: William Blake.
Livro publicado em 1790.
Obra com caráter profético, de um escritor que preveu a morte de seu mestre em gravuras, e que aos nove anos de idade viu Deus da janela e anjos brincando nas árvores. Livro espiritualista com caráter pagão. É dele essa frase: "O caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria."

02 - As flores do mal -
Autor: Charles Baudelaire.
Obra datada de 1857.
Livro que contém 100 poemas que uma visão mórbida desnudando as atrocidades e desgraças do mundo em forma de versos. Sendo acusado de ultrajar a moral pública seus exemplares são apreendidos e obrigado a pagar uma multa. Influenciou toda a literatura que veio depois dele.

03 - Uma Estação no Inferno -
Autor: Arthur Rimbaud.
Escrito por volta de 1873.
Livro que retrata a fase de loucura e busca espiritual que Rimbaud viveu na primavera em Charleville (França). Gênio que abandonou a literatura aos 21 anos de idade vivendo uma vida
inimitável e intensa. Chegando a contrair uma febre tifóide por excesso de caminhar a pé. Foi também líder de um exército árabe, se apaixonou por uma nativa da Abissinia, trabalhou com armamento bélico, diz ter ouvido em sonho aos 16 anos de idade o deus Apolo dizendo para ele ser poeta e morreu aos 34 anos de idade, deixando um legado importante para a arte. Participou de várias viagens poéticas que influenciariam o século seguinte: viagens, drogas, verso livre, rebeldia... Um marco zero na literatura mundial.

04 - A hora do Ócio -
Autor: Lord Byron.
Escrito em 1807 pelo boêmio inglês influenciado toda uma sociedade, inclusive a segunda geração do modernismo ( o mal do século) com Álvares de Azevedo, Junqueira Freire e companhia.

05 - Eu -
Autor: Augusto dos Anjos.
Publicado em 1912.
Influenciado pelas idéias do filósofo pessimista Schopenhauer lança um livro de poesias dentro de uma estrutura clássica e visão mórbida. A faculdade de Medicina do Rio do Janeiro adotou seu livro devido aos termos científicos.
"Beija nessa boca que te escarra." Forte, profundo.

06 - Uivo -
Autor: Allen Ginsberg.
Publicado: 1955.
Um dos representantes da geração beat, seu livro choca fundindo budismo e sacanagem, espírito e carne. Recomendo. Uma porrada na alma.

07 - Antologia Poética -
Manuel Maria du Bocage.
Recomendo qualquer livro desse marginal por excelência. mas comecem com a antologia poética.
Muito bom!!

08 - Paranóia -
Autor: Roberta Piva.
Publicado em 1963.
Uma releitura tardia ( depois de 40 anos) de Paulicéia Desvairada de Mario de Andrade. Poeta xamã e orgiaco. Ele nos revela com seus versos uma São Paulo caótica e desesperada. Aqui o caos, devido a época, é mais exacerbado do que o Mário.
"Eu sou uma metralhadora
em estado de graça
eu sou a pomba-gira do absoluto."
Em uma de suas definições. Mistura de lirismo e palavrão.

09 - Faca Cega
Autor: Glauco Mattoso.
Herdeiro de uma tradição de Bocage, Gregório de Matos e Marquez de Sade esse livro revela o seu próprio desespero de ter ficado cego aos 40 anos de idade. Poeta importante na cena brasileira e mundial com mais de 3000 mil sonetos escritos, isso mesmo depois da cegueira.

10 - Gregório de Matos.
Achem qualquer livro desse cara. Poeta da colônia-Brasil. O mais marginal de todos.
Se não acharem nenhum, leiam o Boca do Inferno da Ana Miranda que tem ele e o frei Vieira de Souto como personagens. Chocou a sociedade, desafiou a igreja.

No mais é isso. Leiam, leiam
mas sobretudo vivam intensamente sem pudor, sem moral, sem regras, sem leis.

# 17 SÁDICO (1999)
(Glauco Mattoso)

Legal é ver político morrendo
de câncer, quer na próstata ou no reto,
e, p'ra que meu prazer seja completo,
tenha um tumor na língua como adendo.

Se for ministro, então, não me arrependo
de ser-lhe muito mais que um desafeto,
rogar-lhe morte igual à um inseto
na mão da molecada vai sofrendo.

Mas o melhor mesmo de tudo é o presidente
ser desmoralizado na risada
por quem faz poesia como a gente.

Ele nos fode a cada canetada,
mas eu, usando só o poder da mente,
espeto-lhe o loló com minha espada.

***

sábado, 8 de setembro de 2012

A FESTA DA COSTA LESTE

(Edu Planchêz)


Há tantos anos folheio "CEM ANOS DE SOLIDÃO"
e nunca chegava a coragem para devorá-lo
O tempo é chegado, as primeiras páginas...
Gabriel García Marques, um colombiano?
Nas minhas simples contas, mexicano
Como Sócrates nada sei
Possuo nada mais que algumas
noções gramaticais e...

Na verdade nunca
me interessei pelos estudos obrigatórios

Vejo Raul Seixas tangendo a môsca azul
para a noite das estrelas compactas
(CD's, Fitas e os velhos discos)

Aposto num "pop florestal"
A vitória régia me seduz
e o neón me induz aos palcos
A cidade no mato
O mato prateando meus pés

Não creio que isso seja um poema
Ao mesmo tempo confesso minha majestosa vaidade
A música exerce um papel-fino em meu diafragma

Seguro meu pênis,
Vontade de me masturbar sem nenhuma razão aparente
Nu sobre uma almofada em cores quadriculada

Sobrevivi a tantas chuvas-fraturas-expostas
Sobrevivi
Rock
Elvis
Pepitas sonoras se desintegram em minha cama
projeto da luz
Rock
Forte jato de almas cantoras
impregnando o esquálido teto da casa que me abriga

Rock:
mil páginas para ele

A consciência me chega
O que é ter uma vida voltada apenas para os prazeres?

Chamo o poema
Ouço minha voz
"HOPW!"

East Village
Parque Novo Horizonte
O Uivo mais secreto de nossas casas
A folha que se entorta na máquina

Edgar Allan Poe merece o cantar de Chico César
Eu mereço a sintonia absoluta com o centro vital do universo

Deuses celestes
Poetas banidos voluntariamente das academias de araque
Esses santos são extremamente magros
e suas catedrais por demais fedorentas
Sacerdotes que abandonaram o mundo coberto de "lama" 
para tentarem florir longe das pessoas impuras (em seus julgamentos)
acabaram perdendo completamente o humanismo
Ninguém merece tal coisa

A única ave
que se atreve ao sol
sou eu a borboleta inesquecível

Brasil
País cravado na vagina da América do Sul
Esse é o meu pedaço de planeta
Tal grão
Tal grau de latitude zero

(Ouço um sax negro, é a voz noite de Louis Amstrong)

Brasil de meus sonhos
Aqui ejaculo meus poemas
A qual América pertenço?
Brasil meu reino absoluto

Afino-me com a África pigmentar
e com os flamingos da Índia

Um vulto moreno negro aterrisa dançando
em todas as partes dessa escrita aromática

Batuca um blues, meu caro condor!
Batuca uma rumba, minha sariema!

Madrepérola da madrugada alçando um vôo atonal
sobre nossos colchões de todas as Américas

Aterriso nessa escrita com os oito passos de Sensei

Vejamos o piano pousado
no platô daquele penhasco de Pompéia

O poema rei se entope de rock
e cospe o fogo do embrião estelar
nas bocas dos pássaros que somos

Nosso reino, essa terra de frutas-pessoas
De coração para coração
De flor para flor

As flores nascidas na lama da miséria
alcançarão a magnitude de um sol
(Se lutarem convictas,
nos garante Sensei)

Em frente!
A montanha inoxidável nada representa
diante da determinação de um guerreiro iluminado

Vinde pássaros que sou pássaro,
projeto único de minha natureza profundamente humana

A flor que enfrenta sua miséria alcança
a magnitude de trinta bilhões de sóis

Estômago vazio, zero centavo em algum lugar
Duas latas para mantimentos
de alumínio prateado pousadas na mesa
Um mundo gigante acima e abaixo de meus doces pés

Nada de solidão
Cobranças, cobranças e muito mais cobranças
Do pai, da mãe, da ex-mulher,
dos irmãos, do atual sogro,
de mim para mim e do Estado

Meu pai comprou um GOL do ano
Minha atual mulher diz
que tomaremos água doce para matar a fome

Hoje estou a dar risadas da fada miséria
No calendário cristão é natal
Alimento-me de música
Sopa de música fumegando colcheias
sobre os telhados de toda a vizinhança
Música ralada enfeitando o macarrão invisível
Música roncando em meu estômago
Mastigo música
Bebo música
Peido música
Mijo música
Cago canções geniais dignas de um Mozart urbano,
urbóide, um bode, uma cabra, uma cobra, um leão,
um tiranossauro rex pra lá de gliter,
muito além do peso do mundo cético
que gentilmente me cerca

Acho que sou gênio e que a fome é linda
Nitiren diz que o que se passa nesse mundo
é apenas um milésimo do que passamos no outro
Então me mostre razão para lamentações

Eu que já cuspi sangue de demônios
de todos os céus imagináveis
cuspo música

Led Zeppelin/Rock/Reggae/Frutas/Flautas
Violões pratificados de terra sobrevoam
os móveis da sala,
diante do meu oratório
Budas vindos de todas as direções do universo
ouvem a música maravilhosa
que nos embala para o sempre

SJCampos/Parque Novo Horizonte
24 de dezembro de 1995


(edu planchêz)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

#5002 FESTIVO MOTIVO [31/10/2011]

(Por Glauco Mattoso)

Incrivel! O fanzine sobrevive,
em tempos de internet, e não ha nada
que o torne ultrapassado! A molecada
ainda tem aquelle gaz que eu tive!

Da rede virtual que elle se prive
nem é preciso, e é justo que elle a invada.
Mas, quando se organiza a "Fanzinada",
dum facto não ha foco que se esquive:

Seu charme é ser impresso, mais ou menos
o caso do chordel, esse folheto
tão practico em seus moldes tão pequenos...

Eu, hoje, a fanzinar não mais me metto,
mas gosto quando um zine berra, a plenos
pulmões, ter publicado o meu soneto...

sábado, 25 de agosto de 2012

AB(R)ISMO


(Por Diego El Khouri)

Tô mas não tô
quero mas não posso
sou todo ócio
atrelado em um negócio
que não faz nenhum sentido
sou meu próprio inimigo
o rei do cinismo
o que eu quero não consigo
bodisatva do delírio
amante do não-egoísmo
me visto na capa do abismo
abrindo abismo sem sentido
serei como meus amigos
ou continuarei beijando meus inimigos
na face difusa da alma do cinismo?

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

BIGODES DE MEUS PINCÉIS

(Por Edu Planchêz)

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Tudo que acontece em minha vida
é para o meu bem
A escuridão acabou,
andei, andaste

da estrada
dos bandeirantes à miguel lemos,
do diamante ao carvão,
da dança livre
aos aritméticos passos
do clássico bale

minha casa está cheia de áfricas...
minha casa abriga
o cipreste das etnias

e em minha casa,
não havia mais se quer,
um palito de fósforo,
para acender a tocha
dos jogos das próximas horas:
usei a faísca elétrica
saída dos fios de um transformador
(por mim desencapados
e unidos)
para gerir a explosão
que acende no gás
a determinante chama

voltemos aos ares
das comarcas dos céus

onde foi que nasceu essa dor?
indo e vindo,
entrando na cerne das vivencias:
ambições, prazeres e desprazeres...
eu quero ver
onde começou essa dor
e chorá-la:
vou me abrir não me fechar...
diante do desintegrar-se

sob os fios condutores
do presente futuro,
amarro os bigodes
de meus pincéis

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

AOS POETAS QUE AQUI CIRCULAM


(Por Diego EL Khouri)

já me vi dentro desse colo abafado
na subtendida palavra
até o útero onde me abrigo e embriago
cada gota de pecado
quero a tentação do meu lado explorada
cintilante paisagem
permaneço sereno em seus olhos apaixonados
não me vendo ao acaso
faço do meu tempo, da minha história
uma viagem inimitável
(atitude inevitável)
Abro os braços...
tá vendo de camarote, ó linda paisagem?
(olhares ríspidos, conveniências, miragens)
 e a hipocrisia que escapa de alguns poetas
que a cada dia transformam seus poemas-porradas
em meras bonitinhas palavras.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

NAS PLAGAS CINZAS DESSA TORPE CIDADE

(Por Diego EL Khouri)

De olhos fechados ignoro o mundo

vislumbro os escombros
que a minha alma sobrecarrega.
Visão turva dentro de mim.
Espaços vazios...
Me espanto com tanto vazio!
Terra imensa, vasta a se perder de vista.
Porém tão devastada.
Terra querida,
doente e amada.
Essa é a vida que percorre no seio da cidade.
Às plagas cinzas uma verdade:
políticos sanguinários
(marionetes)
Nos mutilam as vontades.
Terra linda, devastada...
Deixo-te no peito a saudade.
Terra bonita, deflorada
A melancolia me invade a alma.
Relés desertor da verdade
Poeta das esferas
Que atravessa o inferno escaldante para iluminar
Os instintos e esquentar as vontades.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O "NAM MIO RRORENGUE KIO"



É um navio para atravessar o mar do sofrimento
( Shiiji Shiro Dono Gosho- Páginas 1448 a 1449)

Quando perguntei a ele sobre e o que o senhor havia me dito outro dia, constatei ser exatamente como disse. O senhor, portanto, deve esforçar-se na fé, mais do que nunca, para receber os benefícios do Sutra de Lótus.

Escute com os ouvidos de Shih K'uang (1) e observe com os olhos de Li Lou (2). nos Últimos Dias da Lei, (3) o devoto do Sutra de Lótus(4) surgirá infalivelmente. Quanto maiores sofrimentos lhe sobrevêm, maior a alegria que ele sente, devido à sua forte fé. O fogo não queima mais vivamente quando se adiciona lenha? Todos os rios fluem para o mar. Entretanto, a sua abundância faz com que os rios retrocedam? As correntezas do sofrimento desaguam no mar do Sutra de Lótus e precipitam-se contra o seu devoto. O rio não é rejeitado pelo oceano, nem o devoto recusa o sofrimento. Se não houvesse os rios fluentes não haveria mar. Do mesmo modo , sem adversidades não haveria devoto do Sutra de Lótus. Como Tient'ai(5) afirmou: "Todos os rios fluem para o mar, e lenha faz o fogo estrepitar".

Deve perceber que é por causa de uma profunda relação cármica do passado que o senhor pode ensinar aos outros mesmo uma única sentença ou frase do Sutra de Lótus. O Sutra diz: "É extremamente difícil salvar aqueles que são surdos à Verdadeira Lei". A "Verdadeira Lei" indica o Sutra de Lótus.

Uma passagem do capítulo Hosshi afirma: "Se há alguém, seja homem ou mulher , que secretamente ensine uma única frase do Sutra de Lótus, saiba que é o enviado do Buda". Isto significa que qualquer um que ensine a outras pessoas mesmo uma única frase do Sutra de Lótus é claramente o enviado do Buda, seja ele sacerdote ou freira, leigo ou leiga. O senhor é o praticante leigo e uma das pessoas descritas no Sutra.

Aquele que ouve mesmo uma sentença ou frase do Sutra de Lótus e a alimenta no fundo do coração pode ser comparado a um navio que navega o mar do sofrimento. O Grande Mestre Miao-lo(6) declarou: "Mesmo uma única frase nutrida no fundo do coração infalivelmente o ajudará a alcançar a margem oposta. Ponderar sobre uma frase e praticá-la é exercer a navegação..."

Uma passagem do Sutra de Lótus diz: .como se a pessoa tivesse encontrado um navio para fazer a travessia." Esse "navio" poderia ser descrito da seguinte forma: O lorde Buda, um construtor de navios de sabedoria infinitamente profunda, coletou a madeira dos quatro sabores(7) e oito ensinos(8), projetou -o descartando honestamente os ensinos provisórios, cortou e mostrou os bordos, usando tanto o certo como o errado, e completou a embarcação usando os pregos do ensino único, supremo. Deste modo , ele lançou o navio ao mar do sofrimento. Largando as velas das três mil condições sobre o mastro da doutrina do Caminho Médio, (9)

impelido pelo favorável vento de "todos os fenômenos revelam a verdadeira entidade," a embarcação navega à frente, transportando todos os praticantes que conseguem penetrar no estado de Buda através da sua pura fé. O Buda Sakyamuni (10) e o timoneiro, o Buda Taho(11) maneja as velas , e os Quatro Bodhisattvas(12) liderados por Jogyo movem harmoniosamente os remos regentes. Esse é o navio de " um navio para fazer a travessia", a embarcação do Myoho-rengue-kyo. Aqueles a bordo dele são os discípulos e seguidores de Nitiren. Acredite nisso sinceramente. Quando visitar Shijo Kingo ,(13) por favor, converse seriamente com ele. Eu lhe escreverei novamente.

Com o meu profundo respeito

Nitiren
Em 28 de abril





Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu esta carta para Shiiji Shiro, um samurai que vivia em Kamakura. Pouco se sabe a seu respeito. A parte conclusiva deste gosho e referências feitas sobre ele na carta escrita para Shijo Kingo e Toki Jonin em 1280 e 1281, respectivamente, sugerem que ele era íntimo desses dois praticantes. De acordo com os registros de Nikko Shonin, Shiiji Shiro participou no cortejo fúnebre de Nitiren Daishonin. A partir daí, supõe-se que tenha sido um praticante devotado, que mantinha ligação estreita com Daishonin, especialmente nos seus últimos anos de vida. A detalhada metáfora do ‘navio para fazer uma travessia’ faz-nos imaginar se ele não estaria engajado num serviço relacionado com a construção de navios ou engenharia, embora nenhuma informação sobre esse ponto seja disponível.

O manuscrito original não existe mais e algumas ambiguidades cercam a data de sua escritura. Tradicionalmente, afirma-se que Daishonin a tenha escrito em 28 de abril de 1261, aos 40 anos de idade, cerca de duas semanas antes de ser enviado ao exílio na Península de Izu. Contudo, um outro ponto de vista defende que tenha sido composta bem mais tarde. Referências como as encontradas nesta carta ao devoto do Sutra de Lótus encontrando ‘grandes sofrimentos’ raramente aparecem nas escrituras de Nitiren Daishonin anteriores à Perseguição de Tatsunokuti e exílio a Ilha de Sado. Além disso, o teor do incentivo de Daishonin, expresso no final do gosho: "Quando visitar Shijo Kingo, por favor, converse seriamente com ele" – sugere que Daishonin estivesse morando em algum lugar distante de Kamakura. Com base nessas observações, algumas pessoa supõem que este gosho tenha sido escrito após Daishonin ter se retirado para o Monte Minobu, talvez até no ano de 1281. Entretanto, nenhuma conclusão definitiva foi alcançada.

As circunstâncias imediatas envolvendo o exílio a Izu em 1261 podem ser retrocedidas ao verão precedente, quando Nitiren Daishonin submeteu o seu famoso tratado ‘Risho Ankoku Ron’ (A Pacificação da Terra através do Estabelecimento do Ensino Correto) ao imperado aposentado, Hojo Tokiyori, em 16 de julho de 1260. Os praticantes da Nembutsu de altas posições governamentais enfureceram-se com suas críticas à seita da Terra Pura em seu tratado, e em 27 de agosto de 1260, uma multidão atacou sua residência em Matsubagayatsu, em Kamakura. Daishonin escapou por pouco e obteve abrigo durante algum tempo com seu discípulo Toki Jonin, que morava na província vizinha, Shimousa. Quando ele retornou a Kamakura na primavera de 1261 e retomou seus esforços na propagação, foi preso e sentenciado, sem julgamento ou investigação, a ser exilado a Ito, na península de Izu.

Se Nitiren Daishonin realmente escreveu este gosho em 1261, podemos pressupor que ele possivelmente tenha recebido alguma admoestação antecipada de sua expulsão eminente e estava incentivando seus discípulos a resistirem, mesmo no caso de perseguição. Por outro lado, se ele o escreveu no final de sua vida, então ao falar sobre tribulações, ele provavelmente estaria recordando-se da perseguição de Tatsunokuti e os sofrimentos do exílio na ilha de Sado (1271-1274). De qualquer modo, este gosho prova seu espírito invencível em face das adversidades, e a sua voluntariedade para enfrentar perseguições em prol da Verdadeira Lei – uma atitude que ele manteve durante toda a sua vida.

Na primeira parte deste Gosho, Daishonin explana que o devoto do Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei infalivelmente encontrará sofrimentos. No entanto, longe de serem motivos para lamentar, esses sofrimentos capacitam-no a cumprir o seu grande propósito. Ele explana que aquele que espontaneamente suporta essas dificuldades em prol da Verdadeira Lei seguramente experimentará a grande alegria de atingir o Estado de Buda.

Daishonin também aponta quão difícil e, ao mesmo tempo, quão nobre é propagar a Lei nos Últimos Dias da Lei, quando as pessoas não ouvirão prontamente. Ele afirma que acalentar e praticar mesmo uma única frase do Sutra de Lótus levará uma pessoa à iluminação. Na parte final do gosho, utilizando a metáfora do "navio para fazer uma travessia", do vigésimo oitavo capítulo do Sutra de Lótus, ele declara que o Nam-myoho-rengue-kyo das Três Grandes Leis Secretas é o ‘navio’ que seguramente transportará todos os praticantes, sobre o grande oceano do nascimento e morte, à praia da iluminação suprema.

COMPLEMENTOS:

Shih k'uang: Um músico da corte da dinastia Chou, que serviu ao Duque P'ing de Chin. Ele foi famoso pelo seu extraordinariamente agudo senso de afirmação. De acordo com o Lu-Shih_Ch'um-Chíu, somente ele, dentre um grupo de músicos ilustres foi capaz de discernir que um sino que o duque havia mandado fundir não estava no tom perfeito.

Li Lou: Um personagem lendário da época do Imperador Amarelo. Célebre por sua visão excepcionalmente aguçada, afirma-se que era capaz de distinguir a ponta de um cabelo a centena de passos.

Últimos Dias da Lei: O período que, segundo se descreve, começou dois mil anos após a morte de Sakyamuni, quando as pessoas não podem mais atingir a iluminação através de seus ensinos. Nesta época, o Buda Original faz o seu advento para conduzir as pessoas à iluminação. Os budistas do tempo de Nitiren Daishonin geralmente acreditavam que os Últimos Dias da Lei haviam iniciado no ano de 1052. Tradicionalmente, afirma-se que este período irá durar "dez mil anos e mais, toda a eternidade".

Devoto do Sutra de Lótus: Aquele que propaga o Sutra de Lótus e pratica o budismo de perfeito acordo com seus ensinos. Nos Últimos dias da Lei, o tempo refere-se especialmente a Nitiren Daishonin, que ensinou a essência do Sutra de Lótus, a Lei do Nam-myoho-rengue-kyo, e cumpriu as profecias do Sutra. Numa acepção mais generalizada, indica os discípulos de Nitiren Daishonin que abraçam o nam-myoho-rengue-kyo e devotam-se a sua propagação. No sentido específico, "devoto do Sutra de Lótus"é um outro nome para o Buda Original do tempo sem começo, que surge nos Últimos Dias da Lei.

Tient'ai (538-597) : Também chamado Chih'i. O fundador da escola Tient'ai na China. Ele classificou a totalidade do corpo de sutras budistas de acordo com sua provável ordem, conteúdo e métodos de propagação, demonstrando que o Sutra de Lótus é o mais importante de todos eles. Suas explanações sobre o Sutra de Lótus posteriormente foram compiladas em três grandes obras: Hokke Guengui ( significado profundo do Sutra de Lótus), Hokke Mongu ( palavras e frases do Sutra de Lótus), e Maka Shikan( Grande concentração e discernimento). O Maka Shikan apresenta a profunda doutrina de Itinen Sanzen ( um único momento da vida contém três mil mundos), elucidando a possessão mútua da verdade última e todos os fenômenos.

Miao-lo (711-782) : Também chamado Chan-jan. Sexto patriarca da escola Tient'ai na China, considerado como um restaurador da escola. Ele escreveu detalhados comentários sobre as três principais obras de Tient'ai, contribuindo, assim, para a sistematização teórica de seus ensinos. Os comentários mais importantes de Miao-lo são o Hokke Guengui Shakusen, O Hokke Mongu Ki e o Makka Shikan Bugyoden Guketsu.

Quatro sabores: Os quatro primeiros dos cinco sabores- leite fresco, nata, coalhada, manteiga e gir (a manteiga purificada mais excelente, suposta possuir propriedades medicinais). Tient'ai utilizava esses cinco sabores como uma metáfora para os cinco períodos que nos quais ele dividiu os ensinos de Sakyamuni, ou seja, os períodos Kegon, Agon, Hodo,Hannya e Hokke-Nehan. Deste modo, ele comparou o processo através do qual o Buda Sakyamuni instruiu os seus discípulos e, gradualmente, desenvolveu a compreensão deles sobre o processo pelo qual o leite é transformado no gir. Os quatro primeiros sabores correspondem aos ensinos pré- Sutra de Lótus, enquanto o gir representa o próprio Sutra de Lótus.

Oito ensinos: Uma outra classificação do corpo de ensinos de Sakyamuni empregada pela seita Tient'ai. Consiste de duas subclassificações: os quatro ensinos de doutrina, uma classificação pelo conteúdo, e os quatro ensinos de método, uma no tripitaka (zogyo), correspondendo geralmente ao Hinayana que enfatiza o rompimento dos desejos mundanos, para se escapar do ciclo de renascimento; (2) o ensino de ligação de (tsugyo) que introduziu o conceito Mahayana de não substancialidade e Kuu; (3) o ensino perfeito (engyo) ou Mahayana verdadeiro, que revela a identidade última do Buda e todos os seres vivos. Os quatro métodos de ensino são: (1) o ensino súbito (tonkyo), ou os ensinos que o Buda expôs diretamente, a partir de sua própria iluminação, sem dar aos seus discípulos qualquer instrução preparatória; (2) o ensino gradual (zenkyo), que o Buda expôs em estágios progressivos para elevar gradualmente a compreensão de seus discípulos; (3) o ensino secreto(himitsukyo), ou os ensinos que o Buda planejou pregar para que cada um de seus ouvintes se beneficiasse com eles diferentemente, de acordo com sua respectiva capacidade, sem estar ciente disto; (4) o ensino indeterminado (fujokyo),através do qual cada um de seus ouvintes, conscientemente, recebiam um benefício diferente. Os quatro ensinos de doutrina são, algumas vezes, comparados aos quatro tipos de remédios, e os quatro ensinos de método às maneiras como esse remédio é prescrito e ministrado. No texto deste Gosho, "oito ensinos" indicam todos os sutras provisórios. O Sutra de Lótus era tradicionalmente conhecido na escola Tient'ai como "o ensino que transcende todas as oito categorias".

Caminho Médio: A Lei Mística ou realidade última de todas as coisas que está além de todos os conceitos unilaterais. Em termos das três verdades, a verdade do Caminho Médio transcende as verdades da não substancialidade e existência temporária embora manifeste em ambas. Nitiren Daishonin expressa o" Caminho Médio" como o Nam-myoho-rengue-kyo. Em contraste com as "velas das três mil condições"(sanzen) no texto do Gosho, "o mastro da doutrina do Caminho Médio" corresponde ao momento único da vida (Itinen ).

Buda Sakyamuni: O fundador histórico do budismo que viveu há mais de dois mil anos na Índia. Neste contexto, "sakyamuni"indica o Buda que propagou o Sutra de Lótus e sentou-se ao lado do Buda Taho na Torre do Tesouro>

Buda Taho: Um Buda que apareceu na assembléia do Sutra de Lótus sentado numa magnífica Torre do Tesouro que se elevava da terra. Segundo o capítulo Hoto (11º) do sutra, o Buda Taho vivia no mundo do Tesouro da Pureza na parte leste do Universo. Quando ainda se empenhava na prática de bodhisattva, ele prometeu que mesmo após Ter entrado no nirvana, surgiria na Torre do Tesouro, e atestaria a veracidade do Sutra de Lótus onde quer que qualquer um pudesse pregá-lo. Após reunir todos os Budas de todo Universo, Sakyamuni abre a Torre do Tesouro, e a convite de Taho, senta-se ao lado deste Buda. Sentados juntos na Torre do Tesouro, Taho representa a realidade objetiva da verdade última, e Sakyamuni, a sabedoria subjetiva para perceber esta verdade.

Quatro Bodhisattvas: Jogyo, Muhengyo, Jyogyo e Anryugyo. Os quatro líderes dos Bodhisattvas da Terra descritos no capítulo Yujutsu(15º) do Sutra de Lótus. No capítulo Jinriki (21º), como líder supremo desses bodhisattvas, o bodhisattva Jogyo recebe o mandato do Buda para propagar o Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei.

Shijo Kingo: Um samurai e médico habilidoso que vivia em Kamakura. Acredita-se que tenha se convertido aos ensinos de Nitiren Daishonin por volta de1256. Um dos mais dedicados entre todos os seguidores de Nitiren Daishonin. Ele manteve a fé solidamente durante toda a tumultuada carreira e atuou como figura central para os praticantes em Kamakura.

RETIRADO DAS ESCRITURAS DE NITIREN DAISHONIN - VOLUME 3 - Páginas 257 à 263.
EDITORA BRASIL SEIKYO LTDA.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

CHEIO DE TUDO


(Por Diego EL Khouri)

Vou morar longe
perto da fome
onde não haja sobrenome
muito menos nome.

Vou morar longe
debaixo da sombra
onde meu nome
não seja nome.

Uma coisa além
da vida que não vem

segunda-feira, 30 de julho de 2012

MEDALHA ROTA NO CANTO DA BOCA



(Por Diego El Khouri)



Aos medalhões do século que grudam seus lábios
na consciência fétida
dos poetas-loucos
uma última constatação:                           
           
                                                       a mortelevebreve


arquejando os sonhos à sensação inóspita
que o desajeito da alma anuncia
é assim a minha vida todos os dias 
a flor que beija a manhã
sem aviso prévio
picotada em inúmeras faces
a camada de ozônio destruída
na boca-bueiro capitalista
a barba reluzente escondendo agonia
da face em máscara medicinal
o barulho sujo dos carros à manhã nucpcial da dor
em fileiras hediondas escravos wave foda espinhos brancos
filetes de esperma
um canto que fere outro que alivia
essa é a rotina todos os dias
o velho-menino bêbado
nas dores do álcool falido 
fermentando poesia
ando só sem pai nem mãe
nem ventre nem deus


solta         
                                volta
        volta enrola e  


a epiderme religiosa
mergulhada num mar sem fim
prodigiosa imponência lúcida
os cortes as vísceras os rins
essa é a manhã que se insinua pra mim?

quinta-feira, 26 de julho de 2012

MOLDURA

(Por Diego EL Khouri)

Dentro da moldura
que a alma se enlaça
sou um objeto inóspito
sem medo em ânsia.

Sou fóssil de Morte bélica
veneno sujo, fétido,
quintessência lúdica tétrica
da alma que se fecha.

Canto monódico hermético
movimento só dos quadris
essa festa que na alma emerge
me faz sentir todos os rins.

A síntese do acaso
coxas febris de orgasmo.
A vida, ócio desbaratado da dor,
sorri, finge sentir um calor

que é apenas álcool
- o doce gosto da madrugada
correntezas nectarizante voz
pra lua que nada é fácil...

Fóssil de Morte sem regras
no veneno que infecta
vírus hospedeiro herdeiro
libertino do sadismo baudelairiano.

- Ariano, asno feroz -
noite, visões, espasmos, madrugada,
estrelas, copos, corpos, acaso,
ariano febril na noite que atravessa

e dispersa tudo, tudo, tudo, tudo...
(novas regras)
Anjo solitário, algum futuro nessa Terra?

quarta-feira, 25 de julho de 2012

WINTER BASTOS



                            Obs: na foto Winter Bastos é o da direita 



(Por Diego EL Khouri)

Winter Bastos é um dos mais atuantes escritores desse país. Já acompanhava seu trabalho desde as primeiras edições do fanzine O Berro quando recebia em casa via correio. Zine que conheci através do grande sonetista Glauco Mattoso. Hoje ainda mantendo na ativa as publicações do Berro ele vem aprimorando sua arte e aprofundando cada vez mais nos temas de revolução e luta social que é sua marca registrada. Conheci essa alma brilhante em dezembro de 2010 em Niterói numa tarde quente carioca. Agora é a vez do Winter falar:


O inconformismo é uma das bases principais de sua literatura. De que forma ela se agrega em sua arte?



Na verdade não costumo pôr, em meus contos, objetivos políticos ou ideológicos definidos. Panfletos ou ensaios são bem mais eficientes para isso. Se algum inconformismo acaba transparecendo em minha literatura, isso se dá de maneira involuntária.




Arte necessariamente tem que ser útil?


 Não. Bem, na verdade vai depender do que a pessoa entende pela palavra útil. Arte tem que ser artística, tanto quanto um triângulo tem que ter três lados. Ser artístico é provocar um deleite estético (uma “perturbação” em nossa cognição habitual) que em nada se assemelha a um passatempo ou divertimento acrítico. Essa “perturbação” é bastante proveitosa para cada um de nós, no sentido de permitir auto questionamentos e visões novas sobre o mundo e a vida. A função da arte reside nisso. Ela não é utilitária para a atual sociedade produtivista... felizmente.

  

Como é produzir literatura em um país de poucos leitores, ainda mais uma literatura fora da grande imprensa?


É difícil. Cursei oficinas literárias com escritores como Esdras do Nascimento, Sérgio Sant’Anna e Jair Ferreira dos Santos. Depois fiz parte de um grupo literário em que analisávamos mutuamente nossos textos literários, dando ideias uns aos outros. Arranjar tempo para ler e escrever também não é fácil. Foram muitos esforços e sacrifícios para evoluir um pouco na arte da escrita e mesmo assim poucos reconhecem. Mas a luta vale a pena. Aliás, recentemente tive a boa surpresa de saber que recebi menção honrosa no IX Concurso Municipal de Conto Prêmio Prefeitura de Niterói.   



Quais as principais mudanças que ocorreram nas novas publicações do fanzine O Berro após a saída de Alexandre Mendes e Fabio da Silva Barbosa, criadores do zine ao seu lado?


Fabio e Alexandre (meus grandes amigos há quase 20 anos) saíram do fanzine que criamos juntos, para se dedicarem melhor a seus projetos individuais. Tive, então, que mudar a periodicidade de “O Berro” de mensal para bimestral. Depois ele se tornou oficialmente aperiódico, mas, na prática, tem saído a cada dois meses aproximadamente. No mais, a publicação continua bastante crítica, com textos políticos, algumas poesias, além de resenhas de livros e filmes.  



Uma sociedade baseada no anarquismo é possível?


Uma sociedade baseada no Anarquismo é possível e necessária. A sociedade européia viveu mais de mil anos antes da formação dos Estados e nem por isso se autodestruiu. Na Ásia, África e América houve diversos exemplos de comunidades sem Estado. Comunas especificamente anarquistas (baseadas no pensamento de Piotr Kropotkin, M. Bakunin, Errico Malatesta...) também existiram e não entraram em colapso por falhas em sua estrutura. O problema é que o patronato e os governos combatem o Anarquismo, e o povo ainda não reuniu força e organização suficientes para derrotar tais opressores.     


Como anda as publicações alternativas no país?


Não sei ao certo. Não tenho tido tempo suficiente para me inteirar do assunto. Torço para que estejam bem, já que as publicações convencionais são uma porcaria.



O Brasil vive uma democracia?


 Não. Um país com serviço militar obrigatório, voto obrigatório e prisão de dependentes de drogas não pode ser considerado democrático nem mesmo pelos parâmetros burgueses.

Nos dê uma visão geral de seu blog Expressão Liberta.

 O blog Expressão Liberta nasceu em novembro de 2009 para apresentar o que não costuma ser mostrado pelos meios de comunicação convencionais. Nele podem ser encontrados poemas, críticas literárias, notícias, letras de música, divulgação de eventos, resenhas de filmes etc. O endereço é www.expressaoliberta.blogspot.com.   


Como é seu contato com outros fanzineiros do país? Há diferenças de estilo, visão e produção artística alternativa em cada estado do país?


 Infelizmente meu contato com outros fanzineiros é pequeno. Às vezes mando cartas e não recebo resposta. Outras vezes o zineiro só mantém endereço virtual, o que impede que eu envie impressos. 


Como anda a produção cultural no Rio de Janeiro?


 Há coisas interessantes, porém muita carência também. Por um lado temos boas publicações como o “Anormal Zine”, o jornal “Transversus” e o fanzine “Pençá”, além de iniciativas ligadas à música como o Movimento Pop Goiaba em Niterói. Por outro lado, salas de cinema são fechadas uma a uma, restando apenas algumas poucas em shoppings, com filas quilométricas, ingressos caríssimos e filmes globais ou hollywoodianos idiotizantes. A maior parte dos teatros encena comédias vazias transplantadas da TV ou apresenta stand up comedy (show de humor que não tem nada de dramaturgia).  É difícil encontrar peças de autores relevantes.



Quais os movimentos que participa e a função de cada um?


 Comecei a participar, ano passado, de algumas reuniões de um grupo chamado OP, que tem um blog bastante explicativo acerca de sua função - http://organizacaopopular.wordpress.com/.  No entanto tenho atuado pouco no momento. Também sou colaborador eventual da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (vide www.farj.org).



A submissão é traço dessa nossa sociedade. Acredita na revolução da arte?


A arte é revolucionária, no sentido amplo, à medida que nos faz repensar valores e mostrar novas visões da alma humana e do universo como um  todo. Logo acredito na revolução da arte. Mas entendo que, além desta, é necessário também uma revolução social que destrone os políticos, exproprie a classe burguesa e construa uma sociedade livre e igualitária, sem governantes e governados, proprietários e despossuídos, senhores e escravos. Para a construção desse processo, outros setores da sociedade são até mais importantes que os artistas.



Pra terminar, o que tem a dizer pra essa juventude?


Acreditem em vocês mesmos.