sexta-feira, 22 de julho de 2011
REVELAÇÃO
domingo, 17 de julho de 2011
A MORDIDA DA SERPENTE
Admirou-se no espelho, os olhos começaram a inquiri-lo, numa insistência pérfida. E a picada se deu naquele momento… O espelho trincou em mil faces, cada fragmento refletiam imagens que se ampliavam e se sucediam no mais profundo daquela retina tinturada pela cor cinzenta opaca e triste, de uma tarde fria esquecida pelo por do sol.
Aonde estava a felicidade? Pensou que há muito tempo ela entorpeceu sua juventude, mas ainda não a transformara em fantasmas que arrastavam correntes veladas pela alma amarga. Agora uma alegria ansiosa vibrava latente, querendo explodir os sonhos, revelar um tempo que ainda não se pronunciara, por estar calado no porão do desejo. Este que fora submerso na banalidade da casa e no cotidiano previsível andarilho da mesma rua, enaltecendo palavras que anoiteceram a juventude precocemente…
Que ao menos fosse uma estrela! Mesmo sendo apagada, um dia, tentara ser luz. Agora acreditaria que antes de tombar numa raiz velha, ainda poderia produzir seiva, ser palmeira pra se esgueirar verticalmente em busca do sol.
O nó estava se afrouxando… Agora sim poderia desenhar o seu horizonte, nem que fosse somente para se deslumbrar com o arco-íris e a palmeira a perfilar em sombras…
A serpente surgiu no espelho trincado, insistiu que não lhe dera veneno. Havia, sim, destilado mel. Ela se transformou em flor… O mel transbordava amarelo. E tudo se fez em ouro brilhante e quente. Era o retorno daquele velho e novo por do sol.
O barulho dos cacos se fundiu ao som do celular, que tocava teimoso. O cheiro de comida queimada… O almoço no fogo. A voz adolescente foi ficando sonora e próxima, mãeeeee… O espelho, no chão, não refletia aquela antiga imagem…
Dos poros o doce escorria.
domingo, 10 de julho de 2011
terça-feira, 5 de julho de 2011
POR QUE MARCHAMOS?
Marchamos porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas deTV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nósmesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens; marchamos porque vivemos em umacultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindoem “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam estupro são acusadas de terem procuradoa violência pela forma como se comportam ou pela forma como estavam vestidas;
Marchamos porquea mesma sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer masculino seescandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e filhos;
Marchamosporque durante séculos as mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porquehoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas as mulheres, de todas asidades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica,psicológica, física ou sexual.
No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonhapela expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nossoconsentimento;
Marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade desermos estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não estuprar;
Marchamosporque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homensque se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual;
Marchamosporque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um marido violentou a esposa e,nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quaiselas não deram permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemos fazernada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos.
Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadas de vadias porquetransamos antes do casamento, já fomos chamadas de vadias por simplesmente dizer “não” a umhomem, já fomos chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomoschamadas de vadias porque andamos sozinhas à noite e fomos estupradas, já fomos chamadas devadias porque ficamos bêbadas e sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes, já fomoschamadas de vadias quando torturadas e estupradas por vários homens ao mesmo tempo durante aDitadura Militar. Já fomos e somos diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES.
Mas, hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredirenquanto mulheres. Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓSSOMOS VADIAS. E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livresde rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossasexualidade e aos nossos corpos. Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamosnos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheresestupradas em qualquer circunstância, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidadedestroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito a uma vida livre de violência é um dosdireitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hojee marcharemos até que todas sejamos livres.
Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas, avós, putas, santas, vadias...todas merecemosrespeito!
Carta Manifesto Marcha das Vadias – Brasília Reproduzida pelo Fórum Goiano de Mulheres – AMB (Articulação de Mulheres Brasileiras)
domingo, 3 de julho de 2011
ALERTA VERMELHA!!
AJUDEM A DIVULGAR
Sexta-feira, 1 de Julho de 2011 15:38:53
BLOGUEIRO AMEAÇADO DE MORTE POR DENUNCIAR MILÍCIA NO ES (livre publicação)
De: | "lungaretti@uol.com.br" Exibir contato | |
Para: | "naufrago-da-utopia@blogspot.com" | |
CELSO LUNGARETTI
ALERTA VERMELHO: BLOGUEIRO MARCADO PARA MORRER PEDE SOCORRO
"Chamo a sua atenção para a matéria Julio Cesar: delegado é acusado de formar milícia no ES Veja se pode me apoiar divulgando o caso, pois estou ameaçado de morte."
Recebi este apelo do bravo guerreiro Antuérpio Pettersen Filho, que preside a Associação Brasileira de Defesa do Indivíduo e da Cidadania e edita o jornal eletrônico Grito Cidadão.
Veterano de muitas batalhas, o Pettersen é a última pessoa do mundo de quem possamos suspeitar de alarmismo. Afianço: a ameaça é séria e todos que puderem ajudar em algo, devem fazê-lo o quanto antes.
O motivo são as denúncias que ele vem fazendo contra Julio César Oliveira Silva, delegado de Polícia Civil que Pettersen acusa de ser remanescente do Esquadrão da Morte e continuar até hoje envolvido com o crise organizado.
Isto, aliás, se verificou também com seu extinto congênere paulista, desbaratado pelo promotor Hélio Bicudo. Inicialmente protegido pela ditadura militar, o bando do delegado Sérgio Paranhos Fleury perdeu o apoio da caserna quando Bicudo provou que nada tinha de justiceiro, apenas exterminando traficantes menores a soldo de um traficante maior, que queria eliminar a concorrência.
Eis a ficha do delegado Júlio Cesar, segundo o blogueiro:
"Até outro dia ocupando o cargo de Chefia Geral de Polícia Civil, (...) o delegado de Polícia Civil Julio César Oliveira Silva [é] egresso de breve carreira na Polícia Federal, (...) membro atuante da proscrita Escuderia Le Cocq, banida por determinação do Ministério Público, ainda assim, ocupante do mais alto cargo na hierarquia da Polícia Civil capixaba, famoso por suas ligações com o submundo do crime... [Agora ocupa] o cargo de delegado titular da Divisão de Promoção Social da Polícia Civil, órgão que maneja licenças médicas e afere legalidade para o porte de arma dos policiais civis, (...) onde tem menos visibilidade, (...) no entanto, vem o Delegado usando das suas faculdades para promover seus interesses pessoais e escusos".
Por estar na mira de inimigos extremamente perigosos, Pettersen decidiu encaminhar "pedido de medidas protetivas de vida ao Ministério Público Federal, próprias do Programa de Proteção a Testemunhas, a fim de que sejam tolhidos os que compõem a gangue que parece ter assumido o controle da Polícia Civil capixaba".
O alerta está lançado: nossa solidariedade talvez represente a diferença entre a vida e a morte para Pettersen!
NB – NOTÍCIAS DO BRASIL, ATENDENDO AO PEDIDO DO COLEGA CELSO LUNGARETTI, NOSSO COLABORADOR. OTÁVIO MARTINS – EDITOR.
UMA LINDA MENINA
sábado, 2 de julho de 2011
ENTENDENDO A "ESTRANHEZA"
Deve ser por isso que me causa tanto desconforto o uso, a presença, a proximidade ou a simples visão do luxo, da ostentação, de privilégios. Áreas privadas, seguranças, nobrezas, refinamentos, sofisticações, tudo passou a me parecer uma pantomima ridícula, primitiva, disfarces esfarrapados da nossa desumanidade, da indiferença que somos capazes, em nossa sede de privilégios e superioridades que denunciam a real inferioridade de espírito. Eu disse que me causa incômodo, não raiva. Meus sentimentos têm origem nas situações, não nas pessoas. Essas me causam uma certa tristeza, por inconscientes, por infantis, por superficiais, por iludidas.
Meu desconforto é moral, humano, pela ligação do luxo à miséria, pela inevitável relação do privilégio com a carência. Um sentimento que não se transfere às pessoas, mas às mentalidades, que não procura culpa, mas responsabilidades, nesta sociedade de miséria material e moral. Não é à toa a falta de sentido na vida da esmagadora maioria. Só os mais grosseiros podem se satisfazer com a abastança, com o usufruto, com o consumo. A insatisfação é clara.
Não espero encontrar meus sentimentos, pensamentos e opiniões em outras pessoas – embora, de raro em raro, aconteça. Se me desse ao trabalho e à arrogância de condenar valores e comportamentos dos quais discordo, viveria em conflitos pessoais, alimentaria sentimentos nocivos e desagradáveis e não teria tempo, nem espírito, para fazer os trabalhos que gosto e dão sentido à minha vida.
Não posso recomendar, nem pretendo voltar às situações de miséria material – onde, na verdade, nunca me senti, apesar dos anos e anos nestas situações. Mas não consigo ver valor no luxo, no excesso material, na ostentação e no desperdício. A ligação do valor material ao valor pessoal é de um primitivismo constrangedor. Expressões de insensibilidade, de sub-humanidade.
Fui considerado um cara estranho, incômodo ou simplesmente um chato, principalmente dos 15 aos 19 anos, no meio social de classe média-alta, onde nasci e vivi. Muitas vezes pensei que eu deveria ter alguma coisa errada, por ter vergonha do que os demais ostentavam com orgulho. Por questionar sentimentos de superioridade e tratamentos grosseiros contra serviçais e pobres em geral. Eu causava estranheza e me sentia estranho. Hoje, posso entender tranqüilamente e me dar razão, na minha pouca idade, com a vivência que hoje completa o 50º ano desse curso de vida. Entendo e me congratulo comigo mesmo quando, aos 19, depois de ter sido militar, bancário, estudante, mergulhador, vendedor, entre outras coisas, decidi “dedicar minha vida a refletir e causar reflexão, questionar valores vigentes e desenvolver meus próprios valores”, numa sociedade em que se fabricam, se impõem e se repetem pensamentos de laboratórios, para que ela seja como é. E saí pelo mundo, para experimentar o que era não ter nada e procurar o sentido de uma vida que, até então, não me parecia ter nenhum sentido. Mochila murcha nas costas, sem dinheiro nem paradeiro, sem parentes além da humanidade inteira.
Niterói, 26 de dezembro de 2010