segunda-feira, 30 de julho de 2012

MEDALHA ROTA NO CANTO DA BOCA



(Por Diego El Khouri)



Aos medalhões do século que grudam seus lábios
na consciência fétida
dos poetas-loucos
uma última constatação:                           
           
                                                       a mortelevebreve


arquejando os sonhos à sensação inóspita
que o desajeito da alma anuncia
é assim a minha vida todos os dias 
a flor que beija a manhã
sem aviso prévio
picotada em inúmeras faces
a camada de ozônio destruída
na boca-bueiro capitalista
a barba reluzente escondendo agonia
da face em máscara medicinal
o barulho sujo dos carros à manhã nucpcial da dor
em fileiras hediondas escravos wave foda espinhos brancos
filetes de esperma
um canto que fere outro que alivia
essa é a rotina todos os dias
o velho-menino bêbado
nas dores do álcool falido 
fermentando poesia
ando só sem pai nem mãe
nem ventre nem deus


solta         
                                volta
        volta enrola e  


a epiderme religiosa
mergulhada num mar sem fim
prodigiosa imponência lúcida
os cortes as vísceras os rins
essa é a manhã que se insinua pra mim?

quinta-feira, 26 de julho de 2012

MOLDURA

(Por Diego EL Khouri)

Dentro da moldura
que a alma se enlaça
sou um objeto inóspito
sem medo em ânsia.

Sou fóssil de Morte bélica
veneno sujo, fétido,
quintessência lúdica tétrica
da alma que se fecha.

Canto monódico hermético
movimento só dos quadris
essa festa que na alma emerge
me faz sentir todos os rins.

A síntese do acaso
coxas febris de orgasmo.
A vida, ócio desbaratado da dor,
sorri, finge sentir um calor

que é apenas álcool
- o doce gosto da madrugada
correntezas nectarizante voz
pra lua que nada é fácil...

Fóssil de Morte sem regras
no veneno que infecta
vírus hospedeiro herdeiro
libertino do sadismo baudelairiano.

- Ariano, asno feroz -
noite, visões, espasmos, madrugada,
estrelas, copos, corpos, acaso,
ariano febril na noite que atravessa

e dispersa tudo, tudo, tudo, tudo...
(novas regras)
Anjo solitário, algum futuro nessa Terra?

quarta-feira, 25 de julho de 2012

WINTER BASTOS



                            Obs: na foto Winter Bastos é o da direita 



(Por Diego EL Khouri)

Winter Bastos é um dos mais atuantes escritores desse país. Já acompanhava seu trabalho desde as primeiras edições do fanzine O Berro quando recebia em casa via correio. Zine que conheci através do grande sonetista Glauco Mattoso. Hoje ainda mantendo na ativa as publicações do Berro ele vem aprimorando sua arte e aprofundando cada vez mais nos temas de revolução e luta social que é sua marca registrada. Conheci essa alma brilhante em dezembro de 2010 em Niterói numa tarde quente carioca. Agora é a vez do Winter falar:


O inconformismo é uma das bases principais de sua literatura. De que forma ela se agrega em sua arte?



Na verdade não costumo pôr, em meus contos, objetivos políticos ou ideológicos definidos. Panfletos ou ensaios são bem mais eficientes para isso. Se algum inconformismo acaba transparecendo em minha literatura, isso se dá de maneira involuntária.




Arte necessariamente tem que ser útil?


 Não. Bem, na verdade vai depender do que a pessoa entende pela palavra útil. Arte tem que ser artística, tanto quanto um triângulo tem que ter três lados. Ser artístico é provocar um deleite estético (uma “perturbação” em nossa cognição habitual) que em nada se assemelha a um passatempo ou divertimento acrítico. Essa “perturbação” é bastante proveitosa para cada um de nós, no sentido de permitir auto questionamentos e visões novas sobre o mundo e a vida. A função da arte reside nisso. Ela não é utilitária para a atual sociedade produtivista... felizmente.

  

Como é produzir literatura em um país de poucos leitores, ainda mais uma literatura fora da grande imprensa?


É difícil. Cursei oficinas literárias com escritores como Esdras do Nascimento, Sérgio Sant’Anna e Jair Ferreira dos Santos. Depois fiz parte de um grupo literário em que analisávamos mutuamente nossos textos literários, dando ideias uns aos outros. Arranjar tempo para ler e escrever também não é fácil. Foram muitos esforços e sacrifícios para evoluir um pouco na arte da escrita e mesmo assim poucos reconhecem. Mas a luta vale a pena. Aliás, recentemente tive a boa surpresa de saber que recebi menção honrosa no IX Concurso Municipal de Conto Prêmio Prefeitura de Niterói.   



Quais as principais mudanças que ocorreram nas novas publicações do fanzine O Berro após a saída de Alexandre Mendes e Fabio da Silva Barbosa, criadores do zine ao seu lado?


Fabio e Alexandre (meus grandes amigos há quase 20 anos) saíram do fanzine que criamos juntos, para se dedicarem melhor a seus projetos individuais. Tive, então, que mudar a periodicidade de “O Berro” de mensal para bimestral. Depois ele se tornou oficialmente aperiódico, mas, na prática, tem saído a cada dois meses aproximadamente. No mais, a publicação continua bastante crítica, com textos políticos, algumas poesias, além de resenhas de livros e filmes.  



Uma sociedade baseada no anarquismo é possível?


Uma sociedade baseada no Anarquismo é possível e necessária. A sociedade européia viveu mais de mil anos antes da formação dos Estados e nem por isso se autodestruiu. Na Ásia, África e América houve diversos exemplos de comunidades sem Estado. Comunas especificamente anarquistas (baseadas no pensamento de Piotr Kropotkin, M. Bakunin, Errico Malatesta...) também existiram e não entraram em colapso por falhas em sua estrutura. O problema é que o patronato e os governos combatem o Anarquismo, e o povo ainda não reuniu força e organização suficientes para derrotar tais opressores.     


Como anda as publicações alternativas no país?


Não sei ao certo. Não tenho tido tempo suficiente para me inteirar do assunto. Torço para que estejam bem, já que as publicações convencionais são uma porcaria.



O Brasil vive uma democracia?


 Não. Um país com serviço militar obrigatório, voto obrigatório e prisão de dependentes de drogas não pode ser considerado democrático nem mesmo pelos parâmetros burgueses.

Nos dê uma visão geral de seu blog Expressão Liberta.

 O blog Expressão Liberta nasceu em novembro de 2009 para apresentar o que não costuma ser mostrado pelos meios de comunicação convencionais. Nele podem ser encontrados poemas, críticas literárias, notícias, letras de música, divulgação de eventos, resenhas de filmes etc. O endereço é www.expressaoliberta.blogspot.com.   


Como é seu contato com outros fanzineiros do país? Há diferenças de estilo, visão e produção artística alternativa em cada estado do país?


 Infelizmente meu contato com outros fanzineiros é pequeno. Às vezes mando cartas e não recebo resposta. Outras vezes o zineiro só mantém endereço virtual, o que impede que eu envie impressos. 


Como anda a produção cultural no Rio de Janeiro?


 Há coisas interessantes, porém muita carência também. Por um lado temos boas publicações como o “Anormal Zine”, o jornal “Transversus” e o fanzine “Pençá”, além de iniciativas ligadas à música como o Movimento Pop Goiaba em Niterói. Por outro lado, salas de cinema são fechadas uma a uma, restando apenas algumas poucas em shoppings, com filas quilométricas, ingressos caríssimos e filmes globais ou hollywoodianos idiotizantes. A maior parte dos teatros encena comédias vazias transplantadas da TV ou apresenta stand up comedy (show de humor que não tem nada de dramaturgia).  É difícil encontrar peças de autores relevantes.



Quais os movimentos que participa e a função de cada um?


 Comecei a participar, ano passado, de algumas reuniões de um grupo chamado OP, que tem um blog bastante explicativo acerca de sua função - http://organizacaopopular.wordpress.com/.  No entanto tenho atuado pouco no momento. Também sou colaborador eventual da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (vide www.farj.org).



A submissão é traço dessa nossa sociedade. Acredita na revolução da arte?


A arte é revolucionária, no sentido amplo, à medida que nos faz repensar valores e mostrar novas visões da alma humana e do universo como um  todo. Logo acredito na revolução da arte. Mas entendo que, além desta, é necessário também uma revolução social que destrone os políticos, exproprie a classe burguesa e construa uma sociedade livre e igualitária, sem governantes e governados, proprietários e despossuídos, senhores e escravos. Para a construção desse processo, outros setores da sociedade são até mais importantes que os artistas.



Pra terminar, o que tem a dizer pra essa juventude?


Acreditem em vocês mesmos.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

EDUARDO MARINHO E SUAS REFLEXÕES


(Por Diego EL Khouri)

Eduardo Marinho: artista e  ativista que faz da sua arte função. Um dos artistas que estive em contato  no Rio de Janeiro e que tenho o orgunho e a felicidade de conhecer. Diz aí Eduardo:

                     http://observareabsorver.blogspot.com/

Qual a função da arte?


Cada artista é que determina a função da sua arte. A arte passa pelo filtro da personalidade de quem a materializa e adquire um bocado do seu corpo abstrato, ou seja, seus sentimentos, suas idéias, seus desejos, seus objetivos, sua visão de mundo, suas opiniões e tantas coisas essenciais que fazem parte do ser.

Eu escolhi, pra minha arte, a função de sensibilizar, esclarecer, conscientizar, causar reflexões, questionar valores. Na verdade eu escolhi isso pra minha vida, aos dezenove anos. Nem sabia, ainda, que chegaria a viver de arte.”Vou dedicar minha vida a causar reflexão, a fazer pensar...”, foi o que eu disse, há trinta anos.  Quando comecei a fazer arte, mesmo – não artesanato, de que vivi muito tempo –,  já tinha uma certa vivência e já sabia o que dizer, enquanto seguia aprendendo. Esse aprendizado não termina, é o tempo todo, a vida inteira. É preciso estar atento. Enquanto se aprende, se ensina.





 O que tem a dizer daqueles que  te consideram um individuo que se sente  incomodado pelos ricos?


Não sou incomodado pelos ricos, raramente chego perto de um. O que me incomoda é a ostentação grosseira, o excesso, o desperdício. Toda a miséria que vejo se deve à concentração constante de riquezas, terras, rendas, valores, recursos e poder na mão de poucos, o que traz privilégios às minorias, locais, regionais, nacionais e mundiais. Considero a humanidade uma grande família, é assim que sinto. Mesmo o perverso, o bandido, o delinqüente é um irmão meu, perdido em baixas vibrações, cada um com seus motivos. Não posso ostentar riquezas, nem desejá-las (os que vivem em função de grana e privilégios não podem acreditar nisso), diante do quadro social de miséria e ignorância pra tantos, idosos, crianças, homens, mulheres, a quem se nega os direitos mais básicos por um Estado controlado por poucos riquíssimos miseráveis de espírito.



Se interessar pelo marxismo e odiar os marxistas. Explique essa sua afirmação.


Gostei do marxismo, quando o conheci, porque ali encontrei explicações pras situações que via, de diferenças aberrantes, na minha sociedade. Eu estava numa faculdade pública, em Vitória, e comecei a participar dos movimentos estudantis, ainda na ditadura. Eu não disse que odeio os marxistas. Disse que achei os marxistas péssimos, mas só posso me referir aos que conheci e convivi. E achei péssimos, porque sabiam da estrutura social mas não sabiam falar uma língua que se possa entender. Juntando com a arrogância de conhecer a verdade (reparei que o olhar é muito semelhante ao de um crente fanático), de entender tudo, de querer guiar os outros, tornou o convívio bem ruim. Hoje ainda acho que quem se considera revolucionário deveria conviver com a população, com humildade, e aprender não só a sua língua, como seus costumes, sua sabedoria, seus valores, sua criatividade.  



“Você diz que enquanto não houver estrutura partidária no país não haverá democracia”. De que forma se consegue isso em nossos tempos tão sem esperança?


 Não existe tempo sem esperança. Sai por aí e cê vai ver. Observe os sinais. A fúria dos dominantes vem do desespero. A mídia cada vez está mais desmoralizada, está se formando uma mentalidade de oposição às mentiras cotidianas, muitos movimentos onde antes não havia. Gente conscientizando, contestando valores. Ainda raros, ainda exceções, claro, a humanidade ainda é como um garimpo, muito cascalho, terra, lama, pra cada pedrinha preciosa, pra cada pepita de ouro. Mas há uma diferença fundamental entre o garimpo mineral e o garimpo humano. A preciosidade humana contamina, pega, se alastra.

A estrutura partidária, eleitoral, farsesca, “vende” candidatos como produtos, maquiados e orientados por marqueteiros. Claro que tratam o povo como imbecil, e de fato o povo sofre um processo de imbecilização, há gerações. Sabotou-se o ensino público, destruindo-o literalmente, controlou-se o ensino privado, voltando-o para o “mercado” e tornando-o competitivo e racionalista, e a mídia faz o resto do serviço, encontrando a maciez cordata da falta de instrução e de senso crítico. Os políticos, em sua esmagadora maioria, são reles fantoches, manipulados pelos seus financiadores de campanhas, grandes empresas e empresários e banqueiros riquíssimos. Como pode haver democracia se o povo mal sabe ler umas frases? Como, se a população não tem acesso a informações reais? Democracia, aqui, só se for entendida como a “cracia” do demo.



A mídia hoje é o maior inimigo da sociedade?

Não. É apenas funcionária de luxo dos verdadeiros inimigos das populações. Encarregada de imbecilizar, suprir as carências emocionais, distorcer a realidade de modo a que não se possa entender ou enxergar, desestimular a reflexão sobre o mundo, a vida e a sociedade, conduzir a opinião pública, atacar os movimentos de resistência, reivindicação, denúncia ou defesa da população e induzir ao consumo compulsivo, ligando valores sociais, pessoais, emocionais e afetivos à posse, à ostentação e ao consumo.



Acredita na influência divina no seu processo de criação?


Influência divina é um pouco demais, pra mim. Se a gente nem conhece o universo, boiando nessa bola mineral, em torno de uma estrela-anã, em meio a uma galáxia de cem bilhões de estrelas, que é uma entre 200 bilhões de galáxias contadas desde a antigüidade, até onde os telescópios de alta tecnologia podem alcançar – e o infinito que existe fora do alcance – como é que pode conceber um criador, um ente supremo do universo? O ser humano é um animal pretensioso, não tem a humildade de assumir sua própria incapacidade de compreender a totalidade. Daí as explicações religiosas, cada uma chamando pra si o privilégio da “verdade” e excluindo todas as outras da paternidade divina.

Descendo deste pedestal, percebemos o relacionamento com o invisível, constante e permanente, através do corpo abstrato, do ser. Consciente ou inconscientemente, estamos todos em relação com as freqüências que sintonizamos, sofremos influência e influenciamos, por nossa vez. Muitos dos meus trabalhos, sinto que foram feitos com participações outras, que não defino, nem preciso definir.



 “O poder real está acima da política".  Explique isso.


 Há muito tempo os donos do poder real, o econômico, perceberam como controlar o poder aparente, o político. Arrasando com a educação pública – para que o povo seja ignorante – e controlando as comunicações – para que a população seja alienada – a política se subordina à riqueza de poucos, que financiam as campanhas eleitorais com regras publicitárias – “vendem-se”  candidatos como se fossem produtos, com imagens calculadas,  mensagens vazias de conteúdo e caprichadas na forma. O poder real é exercido no escuro do mercado financeiro, nas corporações de banqueiros internacionais, nas reuniões dos magnatas das indústrias de armamentos, laboratórios farmacêuticos e outras mega-empresas transnacionais, decidindo as políticas públicas que serão impostas às marionetes políticas. Ao povo, resta assistir a farsa dos bonequinhos, com poucas condições de perceber os fios que os controlam. As políticas públicas são resolvidas entre poucos particulares, sem participação de nenhum eleito – a não ser, claro, e se houver necessidade, como informante ou consultor. No estado de letargia política a que somos induzidos, não percebemos os crimes lesa-povos diários.



Você rompeu com vários valores que seu meio considerava importante. A que se deve essa coragem?


 Não há coragem. Nem rompimento com os valores. Simplesmente fui, aos poucos, percebendo as mentiras por trás dos valores vigentes e eles foram, gradativamente, desaparecendo dos meus valores pessoais. Eu não tinha nada para substituir esses valores, apenas dúvidas, então ficou um vazio à espera dos resultados de uma procura que se acentuou quando tirei das minhas costas o peso da situação social privilegiada, para procurar, por meus próprios meios, uma razão pra essa existência. Não pude achar tais razões para a coletividade, mas encontrei para a minha existência pessoal, no princípio da solidariedade ao grupo humano, à coletividade.

As pessoas têm um medo implantado de viver sem “garantias”, sem perceber que isso é fonte de angústias e frustrações. Por isso, é comum eu ouvir que “larguei tudo”, que “abri mão de privilégios”, papos sobre coragem, etc. O que houve foi uma enorme necessidade interna, clamando por uma razão além desse vazio de objetivos, pois buscar privilégios, conforto material, garantias e facilidades, além de me parecer pouco pra querer de uma vida tão passageira, me obrigaria a uma vida de merda, sem sentido. Na verdade, quando fiquei sem nada além de uma mochila nas costas, senti um alívio sem comparação, uma leveza e uma liberdade de movimentação e procura que nunca tinha sentido antes.





E o fanzine Pençá com Fabio da Silva Barbosa? Nos fale desse projeto.


O Fabio tem uma enorme vantagem. Ele entrou na faculdade de jornalismo com vivência de base, conhecia o sistema, trabalhava com radiologia em hospital público, conhecia a falcatrua dos serviços chamados “públicos” e tinha a visão de mundo formada pela realidade da maioria. Isso, com seu temperamento e seu caráter, tornou-se uma fortaleza onde as pressões acadêmicas pela mediocrização pessoal não puderam entrar. O jornalismo se tornou, nele, a expressão da liberdade de expressão. Por isso, ele ficou pelas margens, mas com instrumentação acadêmica para exercer o trabalho jornalístico como ele deveria ser, em regra.

O Pençá nasceu, se bem me lembro, num dos porres que tomamos em algum boteco aqui por perto. Depois, como se fosse um plano autônomo, o Pençá começou a andar, meio aos trancos e barrancos, até o terceiro número. No momento está em hibernação, devido a vários acontecimentos da vida, e pretendemos que se torne aperiódico, para termos mais liberdade. Afinal, nem ele, nem eu temos facilidades na vida – é o preço para manter o respeito próprio, sempre na expectativa de que a situação melhore, pelo menos no meu caso. No dele, acho que ele espera que o mundo se acabe em podridão, na sua visão de que “o ser humano é uma merda”. rs



O que tem a dizer sobre o governo querer desarmar novamente a população?


Isso é jogo de bastidores, teatro no pior sentido da palavra. Os interesses que sustentam esse movimento nem me interessam. As forças de segurança cada vez mais atacam a população. São forças de contenção popular, travestidas de segurança pública. Eu me solidarizo com os bons policiais que têm, em seu coração, a crença de garantir a paz e a segurança de todos – eles acabam deixando a corporação, desiludidos, ou pedem pra ficarem nos serviços internos ou, ainda, se tornam amargos e céticos, aguardando o momento da aposentadoria para esquecer tudo. Pobres vidas dilapidadas, pobres sensibilidades destruídas, pobres humanidades enganadas, brutalizadas e corrompidas.



Revendo sua vida, existe algo que não faria de forma alguma?


Claro. Muitas. Não mandaria ninguém atirar, quando me apontasse uma arma. Não teria filhos antes de ter, pelo menos, onde morar. Não chamaria um juiz de corrupto em público, com o dedo na cara dele. Não demoveria nenhum crente da sua crença. E muitas outras coisas, embora só tenha me arrependido, mesmo, dessa última. O cara largou da família – sua mulher permanecia crente e revoltada com ele -, saiu viajando pelo nordeste e foi morto por policiais, em Alagoas, que o viram vendendo seus anéis de prata e pedras preciosas e o roubaram, antes de matá-lo. Amarguei uma culpa sem tamanho.

terça-feira, 10 de julho de 2012

RESQUÍCIOS DO NADA



(POR DIEGO EL KHOURI)


                                COMI


RESQUÍCIOS             DE              SEU


                    OLFATO


TRAVEI A INÚTIL BATALHA


DO
                  
                            NADA.


VI O QUANTO DEUS É OTÁRIO
POR TER FEITO O HOMEM
             TÃO ORDINÁRIO


NOS RETRATOS SISTEMÁTICOS
DAQUELES QUE REZAM SEM SAPATO


                            
VOLTEI


             MÚLTIPLO  ESCLEROSADO


ROENDO
               
              OS
                       
                        CACOS
                            
                             DO
                          
                                     F
                                   R
                                        A
                                 C A
                                 S
                                  S   O


QUE INUTILMENTE
        
                      OS ANOS REMENDAM


NA AVENTURA RIDÍCULA E MESQUINHA


                 DO
              
                                 NADA.

sábado, 7 de julho de 2012

URNA DA VITALIDADE

(Por Vicente Junior)


a Diego El Khouri, maestro das sinfonias de notas mudas, mas eternas


Saudado sejas, aspirante a eterno,
Espírito livre que enobrece o escárnio!
És espelho perdido nesse mundo cego,
O ébrio despertar de um visionário.
Algoz do eufemismo, és corpo etéreo,
Austera flâmula de dardos hilários.
Teu furioso pensar é um doce mistério,
A bíblia não escrita dos reis libertários.


Teus sonhos devoram a anã realidade
E teus versos nos sanam de toda ilusão.
Destruidor de estilos, nova identidade,
És verbo vivo, o valete da expolição.
Dilataste a pupila da vã mediocridade
E cunhaste o tesouro que é tua visão.
Aos que se somam à tua imparidade
Revela-se o ópio da plena comunhão.


Rimbaud vivente sem uma mortalha,
És jovial maldição; dos simples, a peste!
Lúgubre fulgor de ígnea contumácia,
Ferreiro das palavras e vulto inconteste.
Na coprofilia de tua cordial belisária
Apostamos a vida que não mais é inerte.
Sangras o sistema com a volúpia de tua ária
Dos novos despertos és o inevitável mestre