sábado, 8 de setembro de 2012

A FESTA DA COSTA LESTE

(Edu Planchêz)


Há tantos anos folheio "CEM ANOS DE SOLIDÃO"
e nunca chegava a coragem para devorá-lo
O tempo é chegado, as primeiras páginas...
Gabriel García Marques, um colombiano?
Nas minhas simples contas, mexicano
Como Sócrates nada sei
Possuo nada mais que algumas
noções gramaticais e...

Na verdade nunca
me interessei pelos estudos obrigatórios

Vejo Raul Seixas tangendo a môsca azul
para a noite das estrelas compactas
(CD's, Fitas e os velhos discos)

Aposto num "pop florestal"
A vitória régia me seduz
e o neón me induz aos palcos
A cidade no mato
O mato prateando meus pés

Não creio que isso seja um poema
Ao mesmo tempo confesso minha majestosa vaidade
A música exerce um papel-fino em meu diafragma

Seguro meu pênis,
Vontade de me masturbar sem nenhuma razão aparente
Nu sobre uma almofada em cores quadriculada

Sobrevivi a tantas chuvas-fraturas-expostas
Sobrevivi
Rock
Elvis
Pepitas sonoras se desintegram em minha cama
projeto da luz
Rock
Forte jato de almas cantoras
impregnando o esquálido teto da casa que me abriga

Rock:
mil páginas para ele

A consciência me chega
O que é ter uma vida voltada apenas para os prazeres?

Chamo o poema
Ouço minha voz
"HOPW!"

East Village
Parque Novo Horizonte
O Uivo mais secreto de nossas casas
A folha que se entorta na máquina

Edgar Allan Poe merece o cantar de Chico César
Eu mereço a sintonia absoluta com o centro vital do universo

Deuses celestes
Poetas banidos voluntariamente das academias de araque
Esses santos são extremamente magros
e suas catedrais por demais fedorentas
Sacerdotes que abandonaram o mundo coberto de "lama" 
para tentarem florir longe das pessoas impuras (em seus julgamentos)
acabaram perdendo completamente o humanismo
Ninguém merece tal coisa

A única ave
que se atreve ao sol
sou eu a borboleta inesquecível

Brasil
País cravado na vagina da América do Sul
Esse é o meu pedaço de planeta
Tal grão
Tal grau de latitude zero

(Ouço um sax negro, é a voz noite de Louis Amstrong)

Brasil de meus sonhos
Aqui ejaculo meus poemas
A qual América pertenço?
Brasil meu reino absoluto

Afino-me com a África pigmentar
e com os flamingos da Índia

Um vulto moreno negro aterrisa dançando
em todas as partes dessa escrita aromática

Batuca um blues, meu caro condor!
Batuca uma rumba, minha sariema!

Madrepérola da madrugada alçando um vôo atonal
sobre nossos colchões de todas as Américas

Aterriso nessa escrita com os oito passos de Sensei

Vejamos o piano pousado
no platô daquele penhasco de Pompéia

O poema rei se entope de rock
e cospe o fogo do embrião estelar
nas bocas dos pássaros que somos

Nosso reino, essa terra de frutas-pessoas
De coração para coração
De flor para flor

As flores nascidas na lama da miséria
alcançarão a magnitude de um sol
(Se lutarem convictas,
nos garante Sensei)

Em frente!
A montanha inoxidável nada representa
diante da determinação de um guerreiro iluminado

Vinde pássaros que sou pássaro,
projeto único de minha natureza profundamente humana

A flor que enfrenta sua miséria alcança
a magnitude de trinta bilhões de sóis

Estômago vazio, zero centavo em algum lugar
Duas latas para mantimentos
de alumínio prateado pousadas na mesa
Um mundo gigante acima e abaixo de meus doces pés

Nada de solidão
Cobranças, cobranças e muito mais cobranças
Do pai, da mãe, da ex-mulher,
dos irmãos, do atual sogro,
de mim para mim e do Estado

Meu pai comprou um GOL do ano
Minha atual mulher diz
que tomaremos água doce para matar a fome

Hoje estou a dar risadas da fada miséria
No calendário cristão é natal
Alimento-me de música
Sopa de música fumegando colcheias
sobre os telhados de toda a vizinhança
Música ralada enfeitando o macarrão invisível
Música roncando em meu estômago
Mastigo música
Bebo música
Peido música
Mijo música
Cago canções geniais dignas de um Mozart urbano,
urbóide, um bode, uma cabra, uma cobra, um leão,
um tiranossauro rex pra lá de gliter,
muito além do peso do mundo cético
que gentilmente me cerca

Acho que sou gênio e que a fome é linda
Nitiren diz que o que se passa nesse mundo
é apenas um milésimo do que passamos no outro
Então me mostre razão para lamentações

Eu que já cuspi sangue de demônios
de todos os céus imagináveis
cuspo música

Led Zeppelin/Rock/Reggae/Frutas/Flautas
Violões pratificados de terra sobrevoam
os móveis da sala,
diante do meu oratório
Budas vindos de todas as direções do universo
ouvem a música maravilhosa
que nos embala para o sempre

SJCampos/Parque Novo Horizonte
24 de dezembro de 1995


(edu planchêz)

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