sábado, 20 de julho de 2013

CORPO E MORADA

(Desenho e poema: Diego EL Khouri)


barcos sem morada por vezes me beijam
esperando que os últimos dentes caiam
que a tempestade siga seu ciclo
  retratos se debrucem sobre mesas
e eu permaneça como sempre só

só sem dominar meu corpo, minha alma
sem entender o mapa e as simples carícias
que fazem nossa mortalidade abrigo

sonhar, pensar, mirar estrelas
sem que o corpo faça parte dessa fantasia

decerto abismo o que a poesia trás

em mim jaz um amigo
 alguns dentes e olhares perdidos

(agora me sujei em teu olhar)
o amor é perecivel como o tempo
copos na mesa apoiam retratos
que deveriam estar virados

me sinto pó, irremediavelmente só


do outro lado da colina

aonde  Antonin Artaud
me espera com flores e delírios

espera que os dentes caiam
a miséria venha logo
e não me engane
com o oposto lado da vitória

nove anos se passaram
desde aqueles cortes
muitos terremotos
pulverizaram meus poros
 amores beberam de meu sêmen
e várias pancadas
formaram pares com meu peito

irmãos vivem do salário minguado
escravos modernos
chamados destroços humanos

já fui ruínas, migalhas, fezes
hoje  pedra que se forma
na união de outras pedras
no abraço de outros corpos
no encontro de outras almas
no aprendizado,na aurora
"onde padeço angústia"

cosmos, furacão, armas, revolta

minhas vistas enxergam o futuro
que é passado

se digo que sou pedra que rola
o que dizer desses dias
que não se movem
ou dessas mulheres
que parem vermes
sonhando colher lindas flores?

o que dizer da vida
o que pensar dos amores?

março, 2013

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