(Por Diego EL Khouri)
eu atravesso oceanos
na calda de ninguém
mamute que destroça cimento
nos dentes de marfim no ouro de alguém
eles são fuzis
fezes
sangue coalhado de criancinhas
famintas
acolhidas pelo crack
lembro muito bem
aquele inverno de 2004
porres incompletos, beijos frívolos
Rimbaud sobre a mesa
e paredes
muitas paredes
se fechavam cada dia mais
pela masturbação proferida a ti
naquelas madrugadas
de torcicolo brutal
eu agarrando estrelas
numa minúscula cama suja de sêmen e
bílis
tal qual corda bamba
cometas em festa comum
ah madrugada!!
o que poderia dar a ti
se de mim roubaste tudo?
lamentaste a sina bandida
que és
levaste tudo embora
inclusive meus crimes
e as dívidas de mercado
para sucatear meus sonhos
que viraram cicatrizes na barriga
e apendicite supurado
são inconfundíveis
os olhos dessa terra
esses meninos nos sinais
a implorar migalhas
que a sociedade atropela
corpos descartados
deixados de lado
minoria nojenta
fede e tritura
qualquer pensamento
de libertação
ah madrugada
dos sonhos impossíveis
trouxeste a quimera que pedi?
quero sexo em ventre e alma
a tentação me veja como alvo
e me beije a face mil olhos
de vulcão, tempestade, estrelas
é tudo a mesma coisa
o mesmo cheiro
pelos, entranhas
língua na língua
descobrir teu corpo
alimentar tua sina
ó madrugada linda
que clareia meus olhos
és amor e paixão
misturadas com fogo e pele
nos marcaram como gado
trataram de espalhar nossas dívidas
nos apunhalaram pelas costas
e rasgaram nosso tratado
vilmente sem repeito algum
a nossa história
madrugada insonsa
covarde
as palmas de minha mão
cobrem orelhas
ajoelhado no centro da cidade
uma chuva torrencial
lava meus cabelos e minha alma
não há motivos para acreditar
no pai nem no estado
me fala a luz dos semáforos
repleta de mentiras e sonhos
não creio em inferno ou pecado
a poesia comportada
muito menos em gêneros comprados
porta voz das portas escancaradas
e venenos tóxicos
eu desafio as regras lambendo feridas
desconexas
do outro lado da moeda (!!!)
(ninguém me ouve ninguém me vê)
assim espero.
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