quinta-feira, 25 de julho de 2013

PEQUENINO CÉU QUE EM CADA MOLÉCULA ECOA


(Por Diego El Khouri)


"Em forma de droga me adotou, me adornou
Partículas gotejantes no céu de minha boca
Vou sorvendo a cada instante droga em forma de veneno
Veneno de tinta que brilha, me entorpece me contagia".
                                                      Samira Hadara


pequenino céu que  em cada molécula ecoa
trazendo nos dentes poeira cósmica e tempestade
um saco de maconha, livros, camisinhas, guardanapos,
a sangue frio (nas hordas de banais fantasmas) dizimaste
numa onda vulcânica poetas que há anos vem  devorar me
alimentando todo tipo de veneno
que também me alimentaste tempos atrás

palhaço desajustado de barba mal feita
calça surrada e olhos negros
caminho na órbita elipsoidal dos desejos
sem pudor ou pecado,
crisálida flor de delírio me consome
sou parto feio que entre o falo e a vulva se confunde

as coisas simples passam por mim
numa velocidade estonteante,
como não queimar arroz
não manchar calças com tinta
ou abaixar a tampa do vaso

minha mente voa como águia
para todos os lados
é lautréamont conduzindo vestes satânicas
os olhos vidrados de nero
nietzsche dançando nu na frente do espelho
a espinha dorsal que modifica o século
é alfred de musset na noite fria e bêbada
os raios azuis da divindade
a vagina quente e molhada
abertas feridas  nas ruínas tingidas de verde
hieróglifos decifrados
com a língua que  desenho
e capricho molestando
todos os delírios visionários
  
ser poeta nesse tempo de merda
“é dar de cara com Artaud
diante do hospício”
de joelhos contemplando o sol
a noite nupcial rebola
em cima dos meus sonhos
feridas que carrego
há exatamente nove anos
quando meu sangue me torturava
e chacoalhava meu corpo e alma
boca no vaso
quatro dias
e alguns meses
enjaulado


“sua multe inteligência
vai te levar para o buraco”
minha mestra me disse
na minha infância querida
seu crâneo tinha fraldas infinitas
seus olhos negros vultos
sua fala dança na atmosfera
“de infinitos girassóis”

sou apenas rei-pau
carl solomon
amante insaciável,
sou tudo que escrevo
tudo que falo
a ameba reluzente
e o fio da meada

acabo sempre falando sobre mim
dos olhos  cansados uivantes
do clarim espontâneo do orgasmo
das pedras macias da calçada
dos passos febris dos artistas natos

sou o meu próprio picadeiro
clown bêbado
b.b. king na cartola
e bob Marley na seda

atravesso o universo
num "rabo de foguete"
porque posso
porque sou
o ser, a fibra
o beijo ardente
a chegada,  a partida

abrem as portas
chego em terra nova
nova morada...

não esqueça o raio
este meu nome: pecado
 meu sonho é teu,
toda a vibração dos poros
os meus e o resto do resto
o silêncio berrado
o grito camuflado
a aurora sempre bela
os postes acesos do começo do dia
crianças nos sinais
pedindo uma nova sombra
a corrida forçada no bosque da freguesia
o vem e vai dos lençóis 
o fascínio do êxtase
(esse mundo que não nos pertence)...


e me resguardo...
me resguardo
na iluminação búdica
no crimes  presentes de arthur rimbaud
na camisinha sempre cheia de esperma
em tudo que vivi, tudo que vivo
meu novo e incandescente amor
na contra corrente sempre bem vinda
(vielas limpas e fedidas)
porrada na cara e nos vasos
das bundas de acadêmicos ventres

esse vai e vem nos pertence, samira
e todas as luas e estrelas são os nossos guias
pela floresta que tudo se encontra
dentro dessas grutas vazias
nas escadas de magias douradas
nos prédios dos elevadores adocicados
e nos canalhas que vencem na vida
porque sabem ser canalhas
e à vida empresto sua sordidez preclara
e todos os adjetivos ousados
(chulos)
e mesmo que portas se fechem
e nos bares desapareça todo álcool,
esse vai e vem sempre será a chave
que nos guiará na floresta industrial
de nossos dias tão precários.


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