(Por Diego EL Khouri)
Eu fui feito para ser a tormenta, a calmaria jamais
Odeio-a, embora ela seja prenuncio de
tempestade.
Luiz Carlos Barata Cichetto
o silêncio me veste
me seduz
me faz pensar, refletir
no tempo
no ar seco de nossa atmosfera
nas folhas verdes
da primavera
nos garotos abandonados
nos subúrbios
nos cancerosos
nos hospitais
que pagam caro pra morrer
na lepra absurda
que dança frenética
na alma dos mesquinhos
que escondem o pão
e não dividem o vinho
nos receios implantados
por uma minoria nojenta
escravizada pelo poder centralizador
dos ególatras moribundos
donos da grana
que salva e coibi
penso nas criancinhas vítimas na
Palestina
com seus olhares de pranto e força
(não sabem mais o que é brincar)
olho para todos os lados
afim de ver (me)
mas há um batalhão
de fantasmas repugnantes
dividindo o mesmo sangue comigo
eles não sabem o quanto eu os odeio
os odeio profundamente
com todas as vísceras revoltas
o olhar no sangue
a boca em fogo intenso
não sabem o quanto
não sabem...
agarro desesperadamente tua mão
não quero que minha maneira
ridícula de existir nos afaste
e nem que o meu fracasso
te corte os pulsos
ou te oprima com meu
modo estranho de falar
caminho esguio sobre teu dorso
renego a última esmola do poeta
na forma mais esdruxula possível
eu sou a regra torta e complexa
o último elemento da razão
louco peregrino
dragão sem rabo que come teu rabo
pele e pelos se ramificam
através de mim
crio as paisagens mais sombrias
com meu pincel-camaleão
hoje calado porém nunca cego
mijo nos copos dos bares
atravesso estrelas maiores
voando baixo nos becos, bocas e bordeis
ouvindo ressoar a poesia que corre
nas paredes de suas casas, em suas
janelas...
in silent Way - miles davis penetrando fundo
bomba que faz sucumbir nações
minha mente quando componho, bebo,
trepo, fumo
é guerra nuclear
choque de infinitos decibéis
eu, anjo vulgar de falo rijo,
me intitulo o rei do universo
o mais forte dos perdedores
o menos idiota dos loucos
deus punheteiro
perdido nas páginas amareladas de Sade
antonin artaud enjaulado
Rimbaud traficante
Ginsberg, LSD, morfina
toda falange dourada
que sobrevoa por aí
fora do meu alcance
tento inutilmente
que meus braços
me envolvam e sintam
o calor que emana da luz criativa
que produzo nas pinturas
mas é tudo em vão
as pétalas não tem mais as mesmas cores
o vento não sabe mais o que é o silêncio
a voz emudeceu de raiva
dos ventres saíram flores
que só baco consegue ver
alexandre grande é minúsculo
perante meus olhos vazios
sou veneno que escorre
das bocas mais famintas e sacanas
de todas as cidades, espaços
- desregrado sexual
(numa taça de vertigem)
Não... não sou mais o mesmo
que caminha portando dinamites
no letes do esquecimento
ou o delinquente fodendo bucetas
perto da policia truculenta
sou antes de tudo
o transeunte do pensamento
alguém que teve mil vidas
e sobreviveu a todas elas
“perdulário do caos
esbanjador de palavras preciosas”
cachorro louco
filho da puta
miserável, inútil
no rio borbulhante
do sabor concentrado
de sal e pimenta
a luz flamejante dos faróis
tecem bucetas coloridas
desenhadas na pele dos homens
na famosa vila mimosa
recheadas de carne e groselha
nesse banquete já me fartei
certa noite a vista de todos
enquanto chupava meu pau
todo mundo de bocage
veio a tona em minha pele lasciva
sentidos à flor da pele
raios solares
e só em silêncio, nu, de olhos fechados
percebo agora
a voltagem dos sentimentos
de forma livre
ante convencional
sacana
- divinamente
sacana -
entendo, penso e digo:
meu falo encontrou casa
mas só contigo abrigo
meu falo encontrou casa
mas só contigo abrigo
meu falo encontrou casa
mas só contigo abrigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário